Dez Coisas para Fazer Quando a Sua Vida Desmoronar
- 3 de mai. de 2023
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Por mais de três décadas, a autora americana, Daphne Rose Kingma, vem trabalhando para ajudar pessoas, como você e eu, a olharem para dentro de si e reaprender a ser cada vez mais elas mesmas. Mas o que isso quer dizer? Quer dizer que ela nos ajuda a reconhecer e recuperar de traumas emocionais da infância. Seu objetivo é ajudar a desvendar o ser radiante e expressivo que somos, para que possamos viver com alegria e satisfação. Basicamente, ela nos ajuda a regressar à nossa integridade, a sermos por inteiro.
No livro "Ten Things to Do When Your Life Falls Apart" (Dez Coisas para Fazer Quando a Sua Vida Desmoronar, numa tradução livre), ela aborda os desafios naturais que a vida apresenta ao longo da jornada individual. São experiências vividas na infância que geram impactos desafiados nos relacionamentos, negócios, finanças, saúde, mudança e etc.
Quando surgem esses desafios e nós os ignoramos, eles acumulam e, em algum momento, reaparecem em forma de uma crise. De repente, a vida entrega a conta. Eles acontecem um após o outro, geralmente num curto período de tempo, nos forçando a encará-los de uma só vez.
Por exemplo, você tem traumas de infância que afetam o seu relacionamento, mas você ignora até não dar mais e ter que se divorciar. Logo depois descobre que tem uma doença que a obriga a mudar seu estilo de vida. Às vezes, perde muito dinheiro ou o trabalho no mesmo período. Geralmente são assuntos que você estava empurrando com a barriga até chegar no limite.
Aprendi que, quando não fazemos o que a vida pede, chega uma hora que ela faz por nós. E quando isso acontece, pode envolver muito sofrimento. Mas o objetivo maior dessas experiências, de acordo com a autora, é nos forçar a explorar o nosso lado espiritual e por isso é melhor se render do que resistir.
Quando a vida parece desmoronar e as nossas técnicas não funcionam mais, entramos em pânico. Queremos recuperar o controle e ter a vida como era antes, mas somos forçados a aprender novas formas de viver. "O convite é para lidar com nossos desafios de maneiras novas, autênticas e profundas, que tocam o nosso âmago."
Daphne Rose Kingma se propõe a nos ajudar a criar um significado para essas experiências e começa dizendo que não devemos nos julgar quando estamos numa crise. "As dificuldades nos ensinam, entre outras coisas, que não estamos no controle total, e que a forma como conduzimos a nossa vida até agora não é suficiente. Parte do propósito de uma crise é nos fazer expandir de maneiras completamente novas e diferentes."
Os principais eventos da vida podem ser oportunidades de cura emocional e desenvolvimento espiritual, se assim desejarmos. A presença da dor é uma oportunidade para mudança e, mesmo que não pareça no momento, tudo o que você precisa para passar por ela, está dentro de você, da mesma forma que a amêndoa contém a árvore dormente dentro dela.
Viktor Frankl concordaria com a autora, sem sombra de dúvida. Em seu livro "Em Busca de Sentindo", ele diz que a vida está sempre oferecendo a oportunidade para escolher: podemos usar as experiências, mesmo as mais difíceis, para aprender e evoluir ou nos deixar moldar como vítimas das circunstâncias. A escolha sempre será sua.

Sobre Sentimentos e Luto
Daphne R. Kingma alerta para a importância de nos permitir sentir os nossos sentimentos e viver as experiências do começo ao fim. "É a profundidade e a nuance de nossos sentimentos - de nossa alegria, tristeza, raiva e medo - que dão textura à nossa humanidade."
Precisamos aprender a viver o luto, seja ele por pequenas ou grandes coisas. Derramar as lágrimas é parte essencial no processo da cura. "As lágrimas são remédios que curam a dor da perda."
Estudos mostram que reprimir os sentimentos negativos, também reprime os positivos. O que não sentimos de um lado, não sentimos do outro, pois positivo e negativo são dois lados diferentes de uma mesma moeda. A consequência disso é que, as pessoas que tentam ser felizes o tempo todo, tornam-se mais ansiosas e deprimidas. "Chorar não é sinal de fraqueza e não devemos segurar as lágrimas. Elas são um bálsamo curador, um rio para o futuro."
"Nossos corpos e corações, esse elaborado museu, onde todas as nossas emoções não expressas são armazenadas, são projetados para ter experiências, sentir o que sentem e liberar esses sentimentos. Se não o fizermos, acumulam-se, como as folhas em calhas de chuva, entupindo a calha até que a água jorre pelas beiradas e corre diante das janelas da sala."
Sobre Padrões Comportamentais e os Temas da Vida
Na infância, não tínhamos as ferramentas adequadas para lidar com o que a autora está chamando de Temas da Vida e acabamos desenvolvendo Padrões Comportamentais para cooperar ou enfrentar essas experiências, que foram provavelmente dolorosas.
"Como esses são comportamentos inconscientes - algo que desenvolvemos sem estar realmente cientes do que estávamos fazendo - simplesmente continuamos a fazê-los, quer se apliquem ou não à situação atual."
A autora faz uma analogia com o computador, dizendo que o comportamento padrão é como a programação padrão de um computador novo. Na infância, desenvolvemos um comportamento para suportar a dor e, conforme repetimos esse comportamento, se torna um padrão comportamental. Constantemente reforçado, esse padrão vira um hábito, e a longo prazo, se torna um padrão comportamental automático, que vamos pela vida repetindo, mesmo que já não sirva mais.
O pensamento se manifesta em palavra;
A palavra se manifesta em ação;
A ação se transforma em hábito;
E o hábito se transforma em caráter;
Buddha
"Seus padrões são tudo aquilo que você faz quando não sabe como lidar ou o que fazer a seguir. No computador, os padrões são o que vem nele quando você o compra. Em sua vida, seus padrões são os mecanismos de enfrentamento aos quais você recorre quando está com muito medo de arriscar algo novo."
Para descobrir seus padrões pessoais, a pista é a palavra "sempre" que surge no seu comportamento. "Qual é a sua resposta habitual às dificuldades da vida? Observe como você 'sempre' reage. É aí que você descobrirá seus padrões. Até que você encontre e enfrente os seus, eles o manterão caminhando para um desastre."
Sobre os Temas da Vida, ela diz que os traumas mais frequentes gerados na infância são por negligência dos pais ou cuidadores; abandono físico ou emocional; abuso físico, emocional ou psicológico; rejeição; asfixia emocional quando o adulto cuidador é controlador ou muito carente; e privação, seja de itens necessários para a sobrevivência, de liberdade, espaço para ser e etc.
Identifiquei que os meus temas da vida são abandono, negligência e rejeição, já que meus pais não souberam cuidar, proteger, validar e amar a criança que fui. Fiz essa identificação através de observação de carências afetivas e sonhos constantes envolvendo abandono e rejeição. Os comportamentos padrões de cooperação desenvolvidos na infância foram: perfeccionismo, auto responsabilização e a necessidade de agradar os outros. Mudar esses comportamentos tem sido um trabalho diário nos últimos dez anos.
A autora sugere que a melhor maneira de lidar com esses problemas é de forma direta e diz que, primeiro precisamos reconhecer que temos um Tema de Vida que nos afetou profundamente. Depois, temos que identificar a maneira como fomos feridos emocionalmente - devemos nomear as feridas anotando-as ou falando com alguém. A seguir, observar a maneira como tentamos abordá-los por meio dos comportamentos padrões que desenvolvemos. E por fim, faz-se necessário passar por um processo de cura emocional, que geralmente inclui sentir os sentimentos até chegar a um ponto de equilíbrio.
Uma crise, diz ela, é uma chance para remover uma camada de defeitos. Um convite da vida para se desenvolver, movendo-se na direção da criatividade e tornando-se mais quem você é. Desta forma, a dor é o início de uma grande mudança, e a crise é uma oportunidade. Na verdade, reforça, é uma oportunidade não solicitada para se tornar mais você mesmo.
Segundo a autora, enfrentar nossos padrões comportamentais automáticos é a única maneira de ver como estamos cooperando, ou criando as circunstâncias que nos fazem sofrer.
Não desperdice a chance que se apresenta de usar o sofrimento para fazer as mudanças necessárias. Pode ser difícil no curto prazo, mas a longo prazo valerá a pena.
"O que você fez no passado, trouxe-o até onde está; o que fizer a partir de agora, criará um novo mundo para você. No minuto em que você começar a responder de maneira diferente, a vida começará a responder de maneira diferente para você. O cosmos conhece o seu espírito, subscreve cada respiração sua e, silenciosamente, celebra a sua coragem e vai apoiá-lo."
É fácil ver os tempos difíceis como um insulto porque nos forçam a sair do padrão. Mas a verdade é que eles são criados pela vida, Deus, universo, cosmos - como você quiser chamá-lo - exatamente para que possamos quebrar os velhos padrões. A crise não é acidental e sim, proposital. E o seu propósito é fazer com que você faça algo diferente e se desenvolva de uma maneira que nunca lhe ocorreria fazer, muito menos empreender, se continuasse remando alegremente como a correnteza a seu favor.
"Somos criaturas cujo propósito psicológico e destino espiritual é continuar evoluindo, para nos tornarmos, em todas as direções e níveis, mais plenamente nós mesmos. Estamos aqui para superar o que nos aflige, reivindicar nossos talentos e usá-los para amenizar a agonia e ampliar a beleza de nossa existência. Se, como consequência do nosso Tema de Vida, da prática arraigada de seus padrões, ou simplesmente por causa do tédio da própria vida, você, de alguma forma, evitou a expansão, o cosmos lhe enviou este um lembrete."
Você talvez já tenha ouvido histórias de pessoas para quem a pobreza se tornou a mãe da invenção. O acidente e a perda, tornou-se a matriz da espiritualidade. A frustração, a exaustão e o desgosto, um caminho para a criatividade. Encontrei exemplos destes na autobiografia da Coretta Scott King e da Malala, além de encontrar também no livro do Gandhi e do Viktor Frankl.
Sobre Soltar, Deixar ir, Desapegar
O segredo para encontrar o rumo é praticar: o desapego, a mudança, o deixar ir, o soltar. Mas lembre-se que você não conseguirá ver o destino final depois dos primeiros passos. "Um barco em alto mar pode acabar na América do Norte ou na América do Sul porque, em algum lugar no meio do oceano, o capitão virou o leme um pouquinho em uma direção ou outra. Da mesma forma, fazer uma pequena mudança agora acabará levando você a uma direção significativamente diferente. Mesmo que você tenha que corrigir o rumo várias vezes, o importante é começar, agir. Porque a sua crise é a mão do universo lhe dizendo que definitivamente é hora de mudar de rumo."
Quando a vida desmorona, vem o impulso de se agarrar àquilo que já não nos pertence mais. E para superar uma crise, você terá que abrir mão de tudo o que estiver causando o problema.
Por mais assustador que seja soltar, esse é um ato de entrega. Trata-se de liberar modos de ser e coisas que você achava importantes, mas que não alimentam a pessoa que quer ser. Embora o soltar possa parecer passivo, é, na verdade, uma mudança importante na consciência para solucionar o problema. É preciso coragem para olhar para a sua vida e dizer: estou em uma enrascada infernal e preciso aliviar a carga para lidar com a realidade.
"Temos que deixar ir porque tudo o que estamos segurando está nos mantendo conectados ao problema. Segurar é medo, soltar é esperança."
As lagostas mudam de casca para crescer, as cobras trocam de pele, as borboletas deixam os casulos e os camaleões deixam cair suas caudas. É o que deixamos ir, não o que nos apegamos, que nos levará à tranquilidade e à paz interior.
"Ao soltar, você entra na presença do que sempre permanecerá."
Sobre Aceitar e Integrar
"Integridade é a totalidade, a união dos opostos, a inclusão do que foi separado, negado ou excluído."
No nível pessoal, a integração emocional ocorre quando uma pessoa pode rir e chorar, sentir pavor e paz. A integração espiritual ocorre quando você se sente parte da humanidade, de todo o cosmos e, ainda assim, acorda de manhã e vai trabalhar como indivíduo.
A vida não é um paraíso, é uma jornada com dificuldades e impermanências. Nos resta escolher entre negar as dificuldades que ocorrem e desejar que todas desapareçam, ou integrá-las na nossa experiência e aceitar a realidade como é.
Quando integramos a perda, por exemplo, a incluímos na nossa percepção de totalidade sem apagá-la. "Não insistimos nela, mas sabemos que ainda está lá. Nós a levamos para a cura emocional, onde pode ser transformada. Em vez de sermos perseguidos por ela, gastando nossa energia tentando escondê-la ou negá-la, encontramos paz por meio de aceitação profunda e integrada. Para fazer isso, porém, devemos enfrentá-la, assumi-la e encontrar um lugar para ela em nosso meio."
Ïintegrar significa reconhecer cada vez mais a nós mesmos: o bom, o mau, o feio, o simples, o ultrajante e o incrível. No nível espiritual, é uma jornada na qual nos tornamos capazes de integrar os opostos ao nosso redor: a bondade e a violência, a doença e a saúde, a luz e a escuridão, a vida e a morte; e ver que todas fazem parte da existência.
Quanto mais nos tornamos capazes de abraçar e integrar os opostos, especialmente os que mexem com as nossas emoções e expandem o nosso espírito, mais veremos que tudo e todos pertencem. Veremos que aceitando as nossas limitações, podemos celebrar a nossa magnificência. "Por causa da violência, somos levados às lágrimas pelo gesto altruísta dos heróis; por causa da escuridão, podemos ver a luz; e por causa da morte, podemos valorizar os preciosos momentos da vida."
Sobre o Propósito da Vida
Daphne Rose Kingma encerra o livro com um capítulo sobre o propósito da vida. Segundo ela, esse propósito não é acumular coisas, mas, apesar da atração de todas as coisas, da sedução dos nossos apegos materiais, o propósito da vida é nos conectar profundamente com quem somos.
Ela diz que, se você não viver com simplicidade nos tempos difíceis, é provável que não sobreviva. "Em vez de ser um ensinamento, uma oportunidade ou uma transformação, a fase dolorosa pela qual está passando vai mastigá-lo e cuspí-lo doente, viciado, sem amigos, amargo, suicida ou morto."
A miséria ensina e a crise inspira. A mágoa quebra e derrete o coração, nos forçando a abrir espaço para a mudança.
O espírito é eterno em nós, o que permanece além da vida. "Seu espírito é a própria energia que faz você estar aqui; e é o que restará de você quando seus dias de vida terminarem."
Espero que estes trechos do trabalho da Daphne Rose Kingma sirvam de inspiração para você ler a obra toda. O conteúdo deste livro pode cair como um bálsamo para o ser aflito. A forma como ela discorre sobre traumas de infância, comportamentos inconscientes, o impacto destes comportamentos na nossa vida, o propósito de passar pelas dores e significar as experiências de forma que possamos sair da crise mais maduros, seguros e mais alinhados com quem realmente somos, é inspirador.
Quando ler o livro, adoraria ouvir seus insights.
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Um abraço e até a próxima semana!
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