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Livro “Minha Vida com Martin Luther King Jr.”, por Coretta Scott King

  • 4 de abr. de 2023
  • 6 min de leitura

Atualizado: 4 de abr. de 2023

Literalmente chorei, suspirei, me inspirei e desejei conhecer pessoalmente essas duas pessoas incrivelmente fortes, inteligentes, decididas, iluminadas e dedicadas que devotaram suas vidas em prol da humanidade, da conquista dos direitos civis e da paz mundial.


Penso que quase todas as pessoas no mundo já ouviram falar o nome Martin Luther King e me pergunto quantas delas já ouviu o nome Coretta Scott King, a mulher de personalidade forte ofuscada pelo sucesso do marido ativista.


Quando Martin L. King foi assassinado, em 4 de Abril de 1968, foi ela quem assumiu o bastão e deu continuidade ao trabalho que ele liderava, e do qual ela já fazia parte importante como ativista pela paz e justiça social, até a sua própria morte em 2006.


Tenho que admitir a minha ignorância sobre a história inspiradora dessa mulher, cuja lista de realizações é tão grande que eu não conseguiria resumir em poucas palavras. Dois dos prêmios recebidos por ela foram o Prêmio Gandhi da Paz e o Prêmio Coretta Scott King para Autores.


Filha de pais fazendeiros e vida financeira modesta, na infância, Coretta e seus irmãos enfrentaram não só o preconceito racial, mas também dificuldades financeiras. Aos 10 anos de idade ela trabalhou na colheita de algodão para ajudar a família e, mais tarde, foi trabalhar como doméstica para uma família branca. Mas não por muito tempo, já que a mulher exigia que ela se submetesse a humilhações e pagava o chamado “salario de negros”. Basicamente, ela era tratada como escrava.


A mãe a incentivava a estudar para se tornar alguém e não se permitir ser tratada como ninguém: "você é tão boa quanto qualquer outra pessoa”, ela costumava repetir. Aliás, naquela época essa era a frase que mães e avós repetiam para todas as crianças negras, sempre que essas eram confrontadas com atitudes racistas e descobriam pela primeira vez que os brancos acreditavam que a cor da pele as tornava inferiores.


A família Scott sofreu ameaças frequentes na cidade em que morava e uma vez teve sua casa incendiada. Logo depois, foi a vez do negócio da família ser atacado e transformado em cinzas. Mas o pai de Coretta não se deixava intimidar, nem amargurar. Ele parecia seguir os ensinamentos do Gandhi “mesmo enquanto você está sofrendo, você não pode ter ressentimento - nenhum traço dele - contra o seu oponente.” Ele sempre trabalhava duro para construir outra forma de sustento para a família e alimentava a crença de que existiam homens brancos bons no mundo. O pai foi constante fonte de inspiração para a filha, que também não se permitia desistir nem amargurar pelo racismo - e parece ter sido uma ferramenta da qual a vida se usou para prepará-la para as experiências que viveria como esposa de Martin Luther King.


Coretta foi escolhida oradora da turma em 1945 e logo seguiu para a faculdade, onde enfrentou mais racismo enquanto se formava em Música. Foi nessa fase que ela começou a fazer parte de movimentos pelos direitos civis e tornou-se bastante ocupada, dividindo seu tempo entre os estudos e muitas outras atividades.


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Durante os anos de faculdade, através de uma amiga, ela conheceu Martin L. King e conta que não ficou muito impressionada, nem mesmo interessada até perceber que eles tinham um desejo em comum: o desejo de mudar o mundo.


Fiquei impressionada com a clareza que ela descreve o jovem de apenas 23 anos de idade. Ela conta que, assim que conheceu M. L. K., como era conhecido pelos amigos, ele disse que buscava quatro qualidades na mulher que seria a sua esposa: caráter, inteligência, personalidade e beleza. Ao final do primeiro encontro, ele confessa que ela tinha todas. Coretta diz que ele era extremamente maduro para a sua idade e tinha uma urgência em viver.


Para o desgosto do pai de M. L. K., os dois começam a namorar e ela começa a meditar para tomar a decisão de casar ou não com ele. Naquela época, a mulher devia escolher entre casar ou ter uma profissão e, ao escolher casar com ele, ela entende a necessidade de ajustar a sua formação para se adaptar em qualquer lugar que ele fosse enviado, pois ela sentia que ele tinha uma missão importante para realizar no mundo; e ela desejava ter os dois.


Em 1953 eles se casam, mas ela insiste para que a parte sobre “obedecer” seja removida dos votos matrimoniais. A lua de mel foi num quarto na casa de amigos, donos de uma funerária, já que os recém casados não tinham permissão para alugar um quarto de hotel. Que forma de começar um casamento, não?!


Depois do casamento, Martin consegue um trabalho como pastor de uma igreja batista em Montgomery, Alabama, e Coretta fica feliz de voltar para o Sul dos Estados Unidos. Ela compra um piano, começa a cantar em cidades pequenas, participa da Escola Dominical da igreja e começa a ensinar música.


É em Montgomery que a carreira de Martin Luther King como ativista pelos direitos civis começa a ganhar força, quando Rosa Parks se recusa a dar o assento que ocupava no ônibus para uma pessoa branca sentar.


“Há um espírito, uma necessidade e um homem no início de todo grande avanço humano. Cada um deles deve ser correto para aquele momento particular da história, ou nada acontece. Em Montgomery, o que Martin chamou de Zeitgeist, ou o espírito da época, estava lá sob a aparente passividade do povo afro-americano, a hora havia chegado e o homem foi encontrado. No entanto, o que foi feito lá não poderia ter acontecido sem um acúmulo de forças e um acúmulo de sofrimento.” diz Coretta King em sua autobiografia.


Durante sua vida, ela lamentou ser vista, mas não ser ouvida e considerada em sua substância. “Me fazem parecer um anexo do aspirador de pó”, explicou ela, “a esposa de Martin, depois a viúva de Martin, de quem eu tinha orgulho de ser. Mas nunca fui só esposa, nem viúva. Eu sempre fui mais do que um rótulo.”


De personalidade forte, ela se negava a ser vista apenas como um acessório do marido, pois seu ativismo complementava e às vezes liderava a política dele. Ela não deixou que a ignorância minasse seu ânimo de fazer parte da transformação que desejava ver no mundo. Ela sabia que Gandhi estava certo quando dizia que “aqueles que permanecem no Ashram estão participando da luta tanto quanto aqueles que vão e oferecem resistência nas barricadas”.


Segundo a biógrafa Barbara Reynolds, depois do assassinato de Martin M. King, muitos homens disseram que ela deveria se afastar e deixá-los comandar, mas ela recusou a oferta dizendo: “a maioria acha que as mulheres devem ficar na sombra, no entanto, eu acho que temos muito a contribuir. Na verdade, por muito tempo, muito antes de me casar com o Martin, eu acreditava que as mulheres deveriam permitir que sua essência e presença brilhassem, em vez de nos deixar ser enterradas ou deixadas de lado.”


De acordo com Clayborne Carson, escritor da biografia de Coretta King, ela era politicamente mais ativa do que o Martin quando se conheceram. James Baldwin diz que Coretta se preocupava com o quão limitada sua vida poderia se tornar se ela se casasse com um pastor. Mais tarde, ela conta a James Baldwin que seu relacionamento parecia, de alguma forma, predeterminado.


Sobre todo o sofrimento e medo que passou durante os anos em que Martin Luther King trabalhou pelos direitos civis, ela diz que descobriu que se tornava mais forte com as crises.


Durante o ano do boicote aos ônibus, o telefone em sua casa tocava incessantemente trazendo mensagens de ódio, e Coretta muitas vezes teve que atender. Ela começou então a brincar: “Meu marido está dormindo e me pediu para anotar o nome e o telefone de quem ligou para ameaçar sua vida, para que ele possa retornar a ligação e receber a ameaça logo pela manhã, quando acordar descansado.”


Compreendendo o tremendo trabalho a ser feito após o assassinato de Martin, ela se comprometeu a continuar a luta pela justiça racial e econômica, deixando claro que era assim que a morte dele seria homenageada: “No dia em que os negros e outros escravos forem verdadeiramente livres, no dia em que a miséria for abolida, no dia em que as guerras não existirem mais, nesse dia eu sei que meu marido descansará em uma paz.”


A autobiografia é concluida logo depois da morte de Martin Luther King e, apesar de boa parte do livro ser sobre a tragetória dele como lider do Movimento, Coretta não revela detalhes sobre o assassinato do marido. Ela conclui descrevendo como a família encarou a tragédia, significada por eles como mais um sacrifício necessário para o avanço da humanidade, juntamente com muitas outras vidas sacrificadas ao longo dos mais de 10 anos do Movimento.


“Ele pode estar fisicamente morto, mas seu espírito nunca morrerá”, diz sua filha ainda muito jovem, logo depois de tomar conhecimento do assassinato do pai. E foi a partir daqui que eu não consegui conter as lágrimas. A forma como Coretta conta a experiência vivida por ela e os quatro filhos nos dias seguintes à morte do marido é comovente e tocou-me de forma profunda. Fica claro que os ensinamentos do Gadhi, de resistência não violenta, estavam de fato enraizados na filosofia dessa família, pois mesmo diante desse ataque que tirou a vida de Martin Luther King, não houve revolta da parte deles. Todos respeitaram e seguiram o que ele pregava.


Essa minha breve transcrição da leitura não faz juz a obra nem a vida desse ser, e eu desejo de coração que você invista tempo em conhecer a história dessa pessoa incrível que veio ao mundo em personalidade feminina e deixou um legado para ser estudado e usado de inspiração para transformar as nossas vidas.


Quando você ler, me conte a sua experiência com essa leitura. See you!



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