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O crítico interno e suas origens

  • 23 de set. de 2020
  • 5 min de leitura

Hoje vamos falar sobre o maior crítico de nossa vida. Aquele(a) que está constantemente em nossa cabeça, reprovando tudo o que fazemos, nos mínimos detalhes. Você tem clareza de quem é a pessoa que mais te crítica? Se você for como eu, a resposta é simplesmente: eu mesma!

Por que fazemos isso conosco? Como se forma essa subpersonalidade e como fazer para mudá-la?

O crítico interno ou, simplesmente, voz interna crítica, é uma definição usada por profissionais da psicologia para caracterizar uma subpersonalidade que nos julga e humilha. Podemos reconhecê-la como uma voz mental que joga com nossas ansiedades, dando ao seu diálogo uma qualidade viciante. Geralmente, exagera nossas fraquezas e defeitos, e como ela é familiar por estar conosco há tantos anos, fica fácil acreditar e sentir verdade no que diz. Mas você já questionou se tudo o que ela diz é verdade mesmo?

Vamos olhar para a infância, assistir ao filme de nossa vida e descobrir como adquirimos certos comportamentos que nos influenciam hoje. Vejo neste exercício uma forma de mudar aquilo que já não me serve mais e espero que funcione também para você.

No livro “Self-Esteem” (Autoestima), Matthew McKay nos diz que “uma criança que é espancada e/ou repreendida sente intensamente a falta de aprovação dos pais. Ela “torna-se" por um tempo uma pessoa má.”

Imagine uma criança que foi espancada com frequência por qualquer razão, merecida ou não. Pense que cada vez que ela é repreendida, espancada ou reprovada, consciente ou inconscientemente, sente-se má, errada, inadequada, um ser defeituoso. Consegue perceber a quantidade de reforço que esse sentimento recebe durante os primeiros dez anos de vida desta criança? Como você imagina que ela entrara na adolescência? Com uma imagem positiva de si mesma? Impossível, depois de tanto reforço negativo, não é mesmo?

“As crianças retêm memórias conscientes ou inconscientes de todas as vezes em que se sentiram errados ou más. Essas são as cicatrizes inevitáveis que o crescimento inflige à sua autoestima. São também nessas experiências que o crítico interno começa, se alimentando desses primeiros sentimentos de "não-okay".

O autor segue dizendo que a voz em nossa cabeça é a voz de um pai ou mãe reprovador e que, o barulho e a crueldade dos ataques de auto critica estão diretamente relacionados à força que nossos sentimentos de “tem algo de errado comigo” possui. Ou seja, o quanto você se crítica e reprova hoje, depende do quanto você foi reprovado(a) durante a infância. Pais e cuidadores têm papel fundamental na formação da personalidade de suas crianças. Muitos de nossos comportamentos foram adquiridos durante os primeiros anos de vida, enquanto eles eram nossos modelos.

“Quando os pais fazem um filho se sentir moralmente errado, estão formando a base para uma baixa autoestima”, o que significa dizer que afeta toda a imagem que aquele ser forma de si mesmo (valor como ser humano, amor próprio, auto respeito e etc).

Segundo o autor, são cinco os principais fatores que determinam a força de nossos primeiros sentimentos de “não-okay” ou “tem algo de errado comigo”. 

1 - O grau em que questões como gosto e necessidades pessoais, segurança ou bom senso, foram rotulados como imperativos morais (princípios fortemente sentidos que obrigam a criança a agir);


2 - O nível em que os pais falharam em diferenciar entre comportamento e identidade. Ou seja, diferenciar o ser de seus comportamentos. (Eu não sou os meus comportamentos. O que sou vai muito além disso.)

3 – A frequência das mensagens negativas (reprovação, punição, rejeição) enviadas pelos pais;

4 – A consistência das reprovações, punições e rejeições (sempre que fiz X fui reprovada por eles ou, as vezes sim, outras vezes não);

5 - A frequência com que essas reprovações estavam ligadas à raiva ou afastamento emocional (frieza) dos pais.

Como o crítico interno se alimenta

Ao invés de criar espaço para nutrir nossas vidas positivamente, o que o crítico interno faz é questionar nosso valor e colapsar sobre nós mesmos. No capítulo de “Autoestima” dedicado ao assunto, Matthew McKay fala sobre as formas positivas e negativas pelas quais esse monstrinho é reforçado ao longo de nossa vida.

Reforço Positivo

Como aprendemos em “Applied Behavior Analyses”, o reforço positivo ocorre quando o meu comportamento tem resultado gratificante, aumentando a chance de eu repeti-lo no futuro – por razões óbvias. 

Exatamente como acontece no comportamento físico, a frequência de comportamentos cognitivos (pensamentos) pode ser elevada através de reforços positivos como: a necessidade pessoal de fazer o certo; a necessidade interna de se sentir correto, adequado; e a necessidade de conquistar para mostrar seu valor pessoal.

Reforço Negativo

Este fortalecimento só ocorre quando experienciamos dor física ou psicológica e manifesta-se pela necessidade de controlar sentimentos como: tem algo de errado comigo ou eu sou uma pessoa má ou sem valor; o medo de fracassar ou de sofrer rejeição; sentimento de raiva, culpa e frustração.

Um exemplo claro aqui é o processo do luto. Você já se perguntou o que nos faz ativar memórias dolorosas envolvendo o ser que partiu? Por que continuar ruminando sobre dias que não voltam mais?

Para o escritor, as ruminações têm o poder de aliviar a dor emocional. A consciência da perda cria altos níveis de tensão física e emocional. A frustração e o desamparo aumentam até que precisamos de alívio. Invocar memorias da pessoa ajuda a descarregar essa tensão através do choro e, em seguida, sentimos uma leve dormência. A fase das lembranças durante o luto é, portanto, reforçada pela redução da tensão e momentos de relativa paz interior.

Como tornar-se consciente deste padrão de comportamento

Desde que li este capítulo, estou atenta para capturar os momentos em que essa sombra se manifesta em mim - essa voz (pensamento) que chega como uma consciência, um conhecimento, uma impressão sutil e muito rápida. No meu caso, até agora tive mais clareza do sentimento que me causa do que do pensamento em si.

Veja algumas situações nas quais você também pode ficar atento(a) para apanhar a voz critica em ação e, aos pouquinhos, enfraquecê-la:

1 - Ao conhecer alguém;

2 – Quando estiver em contato com pessoas pelas quais sente-se atraído(a);

3 – Em situações nas quais você cometeu um erro;

4 - Quando você está sendo criticado(a) ou sente-se na defensiva;

5 - Em interações com figuras de autoridade como pais, chefes, juízes e etc;

6 - Quando se sente ferido(a) ou quando alguém está bravo com você;

7 - Quando corre risco de rejeição ou de fracassar em algo;

8 - Em conversa com seus pais ou alguém reprovador.

No final do capítulo sobre crítico interno do livro “Autoestima” encontra-se um exercício que ajuda no processo de quebra desse padrão comportamental negativo. Se você tiver interesse, deixe seu comentário que compartilho a sugestão do autor. 

Se você já leu o livro ou tem conhecimento sobre o assunto, compartilhe conosco através dos comentários.

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