Sobre parar, ouvir, reconhecer e reajustar
- 5 de jun. de 2019
- 4 min de leitura
Atualizado: 2 de set. de 2020
Segundo Thich Nhat Hanh, mestre budista zen Vietnamita, muito do nosso sofrimento vem de percepções erradas e que, para remover esse sofrimento, precisamos remover tais percepções. “Estou vendo, ele ou ela, fazendo isso ou aquilo. Mas talvez a realidade não seja exatamente assim. Existe uma quantidade de pontos escondidos que desconheço. Preciso ouvir ele ou ela mais para entender melhor.”, explica o autor de diversos livros, entre eles “The Art of Communicating”.

Muitas vezes aquela pessoa que acreditamos ter causado o nosso sofrimento pode também ter percepções erradas a nosso respeito e quando fazemos o esforço de ouvir o outro lado da história, cresce as chances de entendimento e o sofrimento diminui. Faça o teste e verá que funciona.
O autor diz que o primeiro passo nessa direção é reconhecer que talvez os fatos sejam diferentes das histórias que criamos na nossa cabeça e que deveríamos sair para caminhar e respirar até nos acalmar e relaxar a ponto de ter uma conversa tranquila. Em segundo lugar, ele sugere falar com a pessoa que acreditamos ter causado o sofrimento, dizendo como estamos nos sentindo e que, talvez, o sofrimento venha da nossa percepção errada. Dessa forma, nos damos a chance de ouvir o que a outra pessoa realmente quis dizer ao invés de falar em tom acusatório, vindo de um espaço interno de achismo. A terceira forma é ouvir cuidadosamente o que o outro está dizendo para entender e tentar corrigir a percepção que formamos. Assim, talvez possamos perceber que fomos vítimas das nossas próprias percepções e conclusões, e não do outro, como acreditamos em primeiro momento.
Eu era a rainha de criar percepções erradas e milhares de histórias na minha cabeça. Gerei muito sofrimento para mim e para outras pessoas por criar histórias ao invés de coragem e consciência para tentar conversar e entender o que o outro realmente quis dizer. Quem me conhece sabe o trabalho que venho fazendo para mudar a minha percepção e ressignificar a história que criei sobre a minha infância. Todos os livros que leio estão me ajudando nessa jornada.
Ouvir profundamente e fazer uso do discurso gentil e amoroso são práticas poderosas, segundo os ensinamentos budistas. Através delas podemos desenvolver boa comunicação e descobrir o que realmente está acontecendo. “Se somos sinceros na nossa vontade de saber a verdade, e se sabemos usar o discurso gentil e ouvir profundamente, será mais provável que conseguiremos ouvir honestamente a percepção e os sentimentos do outro.” Esses momentos são oportunidades para transformar o medo e a raiva em possibilidades para criar relacionamentos mais profundos e honestos com os outros e conosco.
Ouvir atentamente mostra respeito, que segundo Matt Kahn em seu livro “Everything is Here to Help You” (não encontrei uma versão traduzida para o Português e a tradução livre é "Tudo Está Aqui Para te Ajudar") é ingrediente essencial para elevar a energia de qualquer relacionamento. “Ouvir é respeito em ação. Quando ouvimos os outros, estamos verificando a qualidade única de sua existência e confirmando o quão digno são de ser ouvidos, vistos e recebidos.”

Em outro trecho do livro, Matt Kahn sugere que, se somos incapazes de ouvir o outro com sinceridade e interesse é porque precisamos tirar tempo para ouvir os nossos próprios pensamentos, preocupações, sonhos e desejos com mais fervor do que os de qualquer outra pessoa. Só assim seremos capazes de expandir a capacidade de ouvir os outros, mas primeiro temos que respeitar, reconhecer e acolher os nossos próprios pensamentos e sentimentos num nível mais profundo.
Isso faz muito sentido já que tudo começa em nós. Como podemos ouvir e respeitar os outros se não conseguimos ouvir e respeitar a nós mesmos sem julgamento? E leve em consideração que ouvir e respeitar não significa concordar. Significa apenas ouvir e respeitar, sem julgar como certo ou errado, bom ou ruim. E não pense que é fácil fazer essa reeducação, mas lembre-se que é possível, mesmo que demore anos, ou até mesmo a vida toda.
Debbie Ford, em seu livro “ Your Holiness, Discover the Light Within” (Sua Santidade, Descubra a Luz Interna), fala que para começar a limpar a nossa consciência de todas as histórias negativas e percepções erradas que acumulamos e geram sofrimento, temos que começar por reconhecer que permitimos pensamentos e sentimentos inconsistentes com o amor entrar em nossa mente, coração e corpo. “Você tem que admitir que consciente ou inconscientemente, intencionalmente ou não, se abriu para essas frequências e escolheu interpretar algumas de suas experiencias de forma negativa, que é o que faz com que sejam toxicas para você. É importante perceber que a sua interpretação dos eventos da sua vida é o que faz com que sejam nutritivos ou tóxicos.”

Quando olho para as histórias que criei e alimentei durante anos sobre a minha mãe como personagem da minha infância, por exemplo, vejo verdade nas mensagens que os autores querem nos passar. Consigo reconhecer que, inconscientemente, escolhi interpretar e significar as minhas experiências de forma negativa e me deixei levar pelas crenças que criei de vítima impotente perante a tudo o que vivi, ao invés de juntar coragem para abrir um canal de comunicação e questionar o que estava acontecendo. O resultado foi anos de sofrimento - vazio, tristeza, baixa estima, dificuldade para me relacionar, fuga dos meus sentimentos, frustração entre outros comportamentos destrutivos. O lado bom é que, conforme me torno consciente da minha parcela de responsabilidade nos resultados que tenho, vou aprendendo constantemente e mudando as escolhas que faço. Assim, me permito reajustar a rota e escrever uma história diferente daqui para frente.
Eu é que agradeço teu apoio e incentivo Tamara! Você tem sido inspiração nessa minha transformação. Sou grata pelo nosso encontro. Um beijo 😘
Excelente reflexão Lan. Obrigada pelos insights. O caminho que você vem trilhando eh simplesmente inspirador.