A infância e os relacionamentos amorosos
- 14 de out. de 2020
- 6 min de leitura
O seu relacionamento está se transformando em um campo de batalha? Vocês estão oscilando entre o amor e o ódio? Conforme trilhamos a vida e experienciamos o convívio com um parceiro(a), muitos de nós se pergunta o que leva tantos casais ao divórcio e como fazer para a nossa relação durar. Essas são perguntas que talvez a leitura de “Getting the Love you Want” (Todo o Amor do Mundo. Um Guia Para Casais) possa nos ajudar a responder.
Segundo a pesquisa “Estatísticas do Registro Civil”, do IBGE, divulgada em 2019, estamos casando menos e divorciando mais.
Sempre ouvi dizer que manter o relacionamento não é tarefa fácil, mas o que esqueceram de dizer é que relacionamento é construção diária e para ser saudável e forte, exige investimento continuo dos dois lados.
Casada há menos de dois anos, estou em busca de conhecimento para construir o meu relacionamento de forma mais assertiva, assim como faço quando quero aprender algo novo ou me profissionalizar em algum assunto. Aliás, essa é outra coisa que quase ninguém fala: ninguém nasce esposa ou marido, pai ou mãe, assim como não nascemos jornalista, psicólogo, cirurgião, atleta. Todos passamos por um período de preparação para aprender a habilidade que queremos desenvolver.
Então, por que não estudamos para aprender a habilidade de construir relacionamentos? Não acha que é possível aprender com o conhecimento de outras pessoas? Funciona para a área de comunicação, saúde, engenharia e muitas outras, mas não para a vida pessoal?!
Penso que se tivéssemos a cultura de estudar e se preparar para as experiencias da vida, assim como fazemos com a carreira, teríamos mais chances de sucesso. Muitos psicólogos e neurocientistas estão publicando livros ensinando sobre o funcionamento da mente, a formação de comportamentos, como reconhecer e descontruir padrões negativos e etc. Por que não estamos indo em busca de ajuda ao invés de culpar o outro, deixar a relação desmoronar ou só procurar ajuda quando é tarde mais?
Depois de passar pelo divórcio em 1975, Dr. Harville Hendrix (escritor norte-americano, palestrante internacional, treinador clínico e terapeuta de casais) decidiu estudar os relacionamentos amorosos. Dois anos mais tarde, conheceu a Dra. Helen Lakelly Hunt (psicóloga americana, ativista, feminista e filantropa), com quem está casado há mais de 30 anos e publicou o livro mencionado acima. Juntos, trabalham a dinâmica dos relacionamentos para responder à pergunta: o que homens e mulheres querem de seus relacionamentos amorosos?
Eles acreditam que, acima de tudo, o que todos buscamos é conexão - com partes reprimidas de nós mesmos, com outras pessoas e com o universo em geral.
“Não podemos vivenciar a vida em sua plenitude a menos que tenhamos uma relação íntima com outro ser humano e, além disso, um sentimento de conexão com o mundo ao nosso redor.”, dizem em seu livro “Todo o Amor do Mundo. Um Guia Para Casais”.
Como criar o link entre mim e o outro
“Olhando para trás, vemos que o trabalho de nossa vida se originou em ajudar casais a criar o hífen entre o "eu-tu" na relação. O hífen serve tanto como elo quanto como espaço. Significa que a relação amorosa mais gratificante é aquela em que duas pessoas estão intimamente conectadas uma com a outra, mas mantêm uma distância respeitosa, reconhecendo a singularidade uma da outra. A natureza dessa relação não pode ser descrita pelo termo "eu e tu" ou pelo colapsado "eutu". É uma relação "eu-tu". Os dois indivíduos estão separados e conectados ao mesmo tempo.”
Mas como criamos essa distinção? A conexão emocional entre o casal parece ser palavra-chave para um relacionamento saudável. Quem se sente desconectado do parceiro, não consegue sentir o amor fluindo em nenhuma direção - nem de dentro, nem de fora.
Segundo a experiencia do casal de terapeutas, a principal razão de falha na construção do relacionamento “eu-tu” vem do fato dos envolvidos não terem experienciado vínculo afetivo durante a infância. “Infelizmente, a maioria das pessoas experiencia a primeira “dificuldade de relacionamento” nos primeiros 18 meses de vida.” Ou seja, durante o estágio conhecido pelos profissionais de psicologia infantil como “período de apego”.
O impacto da infância
“Para vivenciar uma conexão forte e segura com os pais (cuidadores), as crianças precisam do que os psicólogos chamam de pais sintonizados (ligados). Este é um pai ou mãe presente em ambos os sentidos da palavra: disponível para você fisicamente e de forma afetuosa na maior parte do tempo. Idealmente, respeita sua individualidade e se volta para você para obter pistas sobre o que você precisa no momento.”
Quando a criança tem pais ligados nas suas necessidades, não se torna um peso para eles, nem a solução para as necessidades pessoais não supridas na infância deles. Ela é livre para ser quem é e, ao mesmo tempo, conviver emocional e fisicamente com uma pessoa cuidadosa, atenciosa e amorosa.
Segundo Dr. Hendrix, filhos de pais ligados têm mais chances de construir relacionamentos amorosos satisfatórios durante a vida adulta. “Porque tiveram um relacionamento seguro e fortes laços afetivos com os pais, não possuem medo exagerado de abandono ou de serem engolidos pela relação.”
O livro diz que quem teve suas necessidades atendidas na infância, tem menos chances de escolher um parceiro por carência. Essas pessoas não sentirão atração ou permanecerão em relacionamento com personalidades negligentes, críticas ou abusivas. Ser maltratada as fará sentirem-se como estranhas, deslocadas, pois esses comportamentos não lhes são familiares.
Está aí um sinal vermelho para quem está num relacionamento e não se sente respeitado ou valorizada – ou que tenha percebido sempre atrair parceiros com o mesmo padrão comportamental. Está na hora de olhar para o padrão familiar da sua infância. Como eram os seus pais - afetivos e cuidados ou negligentes e abusivos?
O passado influenciando o presente
Segundo estudiosos de comportamento humano, temos a tendência de buscar o familiar, razão pela qual, se você analisar o perfil comportamental das pessoas com quem se envolveu emocionalmente, percebera muitas semelhanças.
“Do meu ponto de vista, enquanto terapeuta de casal, vejo claramente um padrão nas escolhas dos parceiros que meus clientes fazem”, alerta o psicólogo.
Tire um momento para listar as características de personalidade predominantes nos seus parceiros amorosos. Talvez você descubra neste exercício o padrão familiar entre as similaridades comportamentais desses indivíduos.
Enquanto não tivermos consciência do padrão comportamental de nossos pais durante a nossa infância e o impacto que têm em nossos comportamentos e escolhas, vamos continuar, inconscientemente, buscando o familiar e criando o próprio sofrimento. Para criar um relacionamento saudável, temos que aprender a quebrar os padrões antigos e substitui-los por novos. Ou seja, quem teve pais negligentes e abusivos, por exemplo, precisa fazer escolhas diferentes das que vem fazendo ou continuará sofrendo.
Se você for como eu e a maioria das pessoas, teve pais desligados, física e/ou emocionalmente ausentes. O resultado? Entramos nos relacionamentos amorosos buscando alguém que preencha o vazio que sentimos. Alguém que queira, saiba e consiga resolver nossos problemas - que muitas vezes, nós mesmos não temos a mínima ideia como solucionar.
Depois de uma infância sem laços afetivos reais, não sentimos desconectados apenas de nossos pais. Passamos a sentir desconectados de partes de nós mesmos, e essa ruptura nos faz sentir isolados – dos outros e do universo.
Conforme essa teoria, a ruptura ocorre através de dois tipos de traumas psicológicos: a negligencia (pais que falham em atender as necessidades dos filhos) ou a intromissão (pais que se intrometem demais tentando atender suas próprias necessidades de infância através dos filhos). A maioria das crianças sofre os dois tipos quando um pai é intrusivo e o outro negligente.
O link é restaurar a conexão - consigo, com o universo e o parceiro. Para Dr. Hendrix e Dra. Helen, quando nos conectamos de forma profunda com o parceiro no presente, curamos os traumas de infância.
Ingrediente essenciais para reconexão
Entre os ingredientes para se conectar com o parceiro estão dois muito importantes: a segurança (duas pessoas não conseguem se conectar se estiverem na defensiva, vivendo com medo de abandono ou sufocados pelo outro); e romantismo (a relação precisa de investimento de ambos os lados - atitudes que comunicam interesse).
Atenção: querer que seu parceiro pense como você é um obstáculo para reestabelecer a conexão. Fique atento!
A essência de um relacionamento consciente é aceitar que seu parceiro não é você; defender a realidade e potencial do outro; fazer do seu relacionamento um lugar seguro, removendo a negatividade; e honrar os limites de seu parceiro(a) sempre.
Recomendo a leitura de “Getting the Love you Want” (Todo o Amor do Mundo. Um Guia Para Casais), pois explica de forma simples o funcionamento da nossa mente (consciente e inconsciente), a forma como tomamos decisões numa fração de milissegundos, a origem dos traumas e a formação dos padrões comportamentais. Aborda diferentes teorias para explicar como fazemos a seleção de parceiro e traz exemplos reais, além de exercícios para nos ajudar a criar e praticar novos comportamentos.
Este post é um resumo dos pontos principais sobre a abertura e o primeiro capítulo. Se você acha o conteúdo interessante, deixe um comentário para que possa escrever sobre os pontos dos capítulos seguintes. Tenho alegria em compartilhar conhecimento! ;)
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