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De uma só vez, rouba-lhe mente e coração

  • 28 de ago. de 2019
  • 3 min de leitura

Atualizado: 27 de set. de 2019

Olhar fixo, espera até que o relógio marque meio dia; com as duas mãos, remove o headphone usado para atender os clientes ao telefone, e coloca-o na mesa aonde trabalha; com um click põe o computador em pausa; pega a bolsa preta de couro que passou a manhã pendurada no braço da cadeira e atira ao ombro esquerdo, saindo da sala apressadamente em direção as escadas que levam ao andar inferior; deixa o prédio e vai até o portão, aonde alguns dos novos colegas já estão à espera da Van que os vai levar até o shopping para o almoço. Trata-se de um dia de semana e ela está animada, como geralmente fica quando inicia um novo trabalho ou novo projeto. Duas colegas, que se encontram na fila da Van, estão fazendo amizade com ela, que fica feliz por ter com quem bater papo durante a uma hora e meio de almoço. Apesar de estar acostumada a fazer as refeições sozinha desde que deixou a casa dos pais quando tinha apenas treze anos, sente falta de ter alguém para compartilhar certos momentos do dia.


A Van se aproxima, estacionando em frente ao primeiro da fila, cinco minutos depois do meio dia. Uma a uma, oito pessoas vão entrando e escolhendo um lugar confortável para os doze minutos de trajeto até o Shopping Continental, na zona Oeste de São Paulo. Com um vrum vrum vrum suave, o carro se movimenta até o local, aonde um a um, deixam o carro e caminham em direção a entrada do prédio, seguindo para as escadas rolantes que levam ao terceiro andar, onde fica a praça de alimentação. Alguns se apressam para evitar as filas nos restaurantes, ela, no entanto, espera pelas duas novas amigas para seguirem juntas. Na praça de alimentação, as três se separam para pegar comida e se reencontram numa mesa, entre muitas outras, ocupadas por pessoas de diferentes empresas vindas ao shopping para o almoço, exatamente como elas costumam fazer de segunda a sexta-feira. No zum zum zum de vozes, ela pousa a bandeja na mesa, agacha para sentar-se ao mesmo tempo em que passa o olhar rapidamente pelo público e encontra um par de olhos azuis fixos na sua direção, fazendo seu coração pulsar forte dentro do peito.


O dono de tais olhos veste uma camisa branca, cuidadosamente arrumada por dentro das calças de um cinza escuro, que escondem um par de sapatos pretos novinhos. Eles instantaneamente se conectam acionando uma montanha russa, que libera adrenalina fazendo o tempo parar para ela. A temperatura do corpo começa a cair, como acontece quando fica nervosa, e ela sente as tremidinhas enquanto as mãos começam a gelar e o estomago borbulha num mix de sentimentos e emoções impossível de controlar. Traz o olhar de volta para o prato, dá uma garfada na comida para perceber que perdeu a fome. Os olhos azuis estão novamente pausados nela, que de repente sente-se nua ao notar que seus olhos castanhos encontram os dele no que parece ser um momento íntimo. Ele está há uns cinco passos de distância, para ela, porém, parece que está com o nariz fino grudado ao dela, permitindo-lhe sentir o seu aroma. Ela tenta desviar a atenção, falhando constantemente ao voltar a mirá-lo de novo e de novo até perceber que ele também busca ansiosamente por esses momentos de conexão. Olhares entrelaçados, os dois se permitem ficar nessa dança até que alguém, do lado dele ou do lado dela, interrompe com palavras que nem ele nem ela estão interessados.


As amigas percebem as mãos ficando rochas e o olhar distante da menina, e uma delas decide olhar para trás na tentativa de entender o que está lhe roubando a atenção. Nesse momento, os olhos da moça encontram o rapaz dos olhos azuis com um sorriso luminoso relevando dentes brancos e levemente separados. “Ele é bonito!”, comenta voltando-se para o prato para dar outra garfada. A menina, entretanto, não consegue comer e desiste depois de três tentativas frustradas. O estomago está agitado e cheio de borboletas com nomes de pensamentos, desejos, ânsia, sonhos, antecipação, esperança e sede de amor. Quando chega a hora de pegar a Van de volta para o trabalho, ela sorri para ele, se afastando enquanto começa a sonhar acordada com a próxima cruzadela. Sentindo crescer o calor, deseja aquele estranho de olhos e sorriso apaixonantes que lhe roubou de uma só vez mente e coração.

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