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Descobrindo a gravidez

  • 3 de jul. de 2019
  • 3 min de leitura

Já passavam das dez horas da noite e estávamos os dois sentados no chão do “closet”, próximos a porta do banheiro por onde eu tinha recém emergido segurando em uma das mãos um dispositivo de plástico branco e lilás. Recostada no espelho do “closet”, as pernas formando um triangulo e os pés tocando o umbral da porta, fiquei imóvel olhando para o meu marido enquanto ele olhava para o dispositivo que pousei no chão segundos antes. O teste de gravidez deu positivo. Nos olhamos com um misto de surpresa, alegria e medo. Era o começo de uma nova fase nessa experiência de vida juntos. "Em breve seremos uma família", pensei olhando para ele, que me abraçou prometendo ser o melhor pai e companheiro que pudesse se tornar.


Isso aconteceu durante as primeiras semanas de fevereiro de dois mil e dezenove, quando eu já estava com trinta e oito anos de idade e ciente de que não teria muito mais tempo pra continuar na dúvida se queria realmente ser mãe.  Naquele momento, não consegui pensar em nada com clareza. Não me sentia feliz nem triste, assustada é a palavra que melhor descreve o sentimento dos primeiros minutos da nova descoberta. E o meu medo tinha mais de uma razão de ser.


Naquela mesma noite, confortavelmente sentados no sofá emprestado que ocupava a nossa sala de estar, nos posicionamos frente a frente e, antes de fazer o teste, tivemos uma longa conversa sobre as nossas diferentes formas de ver e viver a vida. Na mente, a insegurança dominava e eu alimentava pensamentos como “que eu não esteja gravida. Por favor! Por favor!”, pedindo desesperadamente pra vida me dar mais tempo pra consertar a relação ou talvez, a mim, como se precisássemos de conserto.


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Aquela se tornou uma noite longa. Acordei muitas vezes, virando na cama e pensando no que tínhamos feito, ignorando que não tenho mais muitos anos pra ter um filho de forma saudável. Minha mente corria solta e os pensamentos eram os mais variados, entre medo, insegurança, alegria e confiança. “Vamos ter um bebê! Estamos preparados pra isso? Ele está preparado pra fazer a parte dele? Estou preparada emocionalmente pra me comprometer em criar outro ser humano de forma saudável e livre? Como vai ser daqui pra frente?”


Sobrevivi aos meus medos e inseguranças e, com o passar dos dias, crescia dentro de mim não só o feto, mas também a aceitação e o amor que chegou com a ideia de ter um filho com o homem que escolhi pra ser o meu companheiro nessa experiencia. Passei então a alimentar pensamentos como “ele é tão dedicado, amoroso, paciente e atencioso. Tenho certeza que ficaremos bem. Ele tem orientação pra família e pode me ensinar a construir também”, ao invés de continuar focando apenas naquilo que ainda precisa ser trabalhado nele, em mim, ou na nossa relação. "Essa mudança de mentalidade vai fazer bem pra mim e pro bebê", pensei, ignorando que todos sairíamos ganhando.


Conforme a experiência foi acontecendo, a cada dia e a cada novo sintoma, fui me entregando mais e mais. Ele comprou o livro "What to Expect When You're Expecting" (O que esperar quando você está esperando), escrito por Heidi Murkoff e Sharon Mazel, e eu baixei o aplicativo. Assim nós dois fomos acompanhando semana a semana o desenvolvimento do nosso bebê.


Ele continuava se controlando, com medo de se entregar de vez pra experiencia e sofrer uma decepção, como se existisse a possibilidade de sofrer menos caso a gravidez fosse interrompida. Quando chegou o dia do primeiro ultrassom, estávamos na sala de espera do laboratório ansiosos pra ver as primeiras imagens desse serzinho que nos transformava de casal em família. Ele ficou emocionado ao ver um coraçãozinho tão pequeno pulsando forte nas imagens transmitidas pelo monitor da sala de teste. A partir daquele momento, ele se rendeu.


Desde o primeiro momento, meu marido estava ciente sobre as chances de um aborto espontâneo durante as primeiras treze semanas de gestação. Mesmo sabendo da possibilidade, procurei confiar na sabedoria da vida e aproveitei cada momento como sentia. Compartilhei com todas as pessoas que senti vontade de compartilhar, conversei com o bebê desde o primeiro momento que me senti emocionalmente conectada com ele e fui muito feliz durante as dez semanas e meia que meu filho e eu habitamos o mesmo corpo.

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