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Reflexões pós aborto: o fluxo natural da vida

  • 29 de jul. de 2020
  • 3 min de leitura

Atualizado: 2 de set. de 2020

Após três dias fechada em casa, mais especificamente em seu quarto, deitada na cama que dorme temporariamente por mais de cinco meses enquanto espera pelo nome do marido ser o próximo da lista de espera para uma casa da universidade em que trabalha, ela finalmente deixa o ninho para uma caminhada que se torna mais curta do que o desejado.


Desde a ultima quinta-feira, seu corpo vem eliminando de forma natural o conteúdo do segundo aborto espontâneo que tivera este ano. Mesmo desejando que o seu corpo fizesse tudo de forma natural, sem nenhum tipo de intervenção, ela passou uma semana tentando agendar o procedimento de curetagem – ligou diversas vezes, deixou pelo menos três recados e não teve retorno da equipe médica, algo que ainda não tinha experienciado na UCLA Health -, sem conseguir. Ela prefere acreditar que, por alguma razão que ignora, a vida/universo/Deus bloqueou esta opção.


Na ansiedade de concluir a experiência, começa a pensar na possibilidade de usar as pílulas e se dirige para a farmácia.

Lá, mais uma vez as portas se fecham e ela começa a se questionar se deveria mesmo esperar pelo processo natural, já que o médico enviou a prescrição do medicamento duas semanas antes dela ir buscar, mas a farmácia não recebeu.


Ela liga para o consultório e solicita que seja reencaminhado, para logo perceber que foi um esforço em vão. Mesmo depois de ser reenviado duas vezes, ela não tem acesso a prescrição. Algum erro de comunicação entre o sistema do consultório e a farmácia impede que o medicamente lhe chegue as mãos.


Cansada, frustrada e confusa, rende-se e decide esperar pelo fluxo natural da vida.


Já fazia quase três semanas desde a notícia do aborto e o corpo não tinha dado sinal de ter entendido. Ela temia ter que esperar mais duas ou três semanas até ele finalmente fazer o que precisava ser feito. Com o passar dos dias, ela impacientava-se com a incerteza.


Dentro dela, uma voz suave, quase imperceptível diante do barulho da frustração, dizia-lhe que estava tudo certo, que era seguro esperar, que tudo estava caminhando exatamente como deveria ser.


Nessa segunda-feira, sentada em algum canteiro de jardim da vizinhanca do bairro em que mora, sentindo-se ainda desorientada, inicia conversa repentina com uma estranha que passa pela rua e fala abertamente sobre o que está experienciando - passar pela fase mais dolorida do processo naturalmente, as dores que tanto temia e o silêncio de três dias.


Ao fazer o trajeto de retono ao seu quarto, tem tempo de pensar sobre a experiência como um todo e perceber que a vida estava desde o início tentando fazê-la entender que não havia razão para se preocupar.


Mais calma, percebe de forma muito clara que uma parte de si queria agilizar tudo para que pudesse tentar novamente, o mais rápido possível, como se, de alguma forma, isso pudesse alterar o que a vida tem reservado para ela. Um lado quer saber se vai realmente poder ter filhos, chegar no final da história, saber como será a terceira tentativa. O outro, porém, a acalma lembrando que cada coisa tem o seu tempo e que é a jornada e as lições que importam, não a chegada ao destino final.


Mesmo que ainda confusa, ela quer confiar neste fluxo natural das coisas, quer aceitar que, qualquer que seja a conclusão de sua história, está tudo certo; que o que importa são as experiências que está vivendo durante este percurso e as lições que está aprendendo a cada passo dado nesta jornada cheia de incertezas que é viver.

3 Comments


Gratidão mútua minha amiga querida!

Nosso encontro eh um presente em nossas vidas.

Amo vc tbem!

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Unknown member
Aug 06, 2020

Gratidão pelo teu comentário e presença na minha vida, Tamara! Sempre trazendo sabias palavras e ótimos insights. Obrigada por acompanhar a minha trajetória “and for holding the door for me”.

Te amo!

Beijo

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Sim Lan, existência essa na terra cheia de incertezas mas tbem de possibilidades. Que juntas possamos seguir em frente confiantes, mas não simplesmente “tocar o barco” ou “empurrar com a barriga” como se diz na linguagem popular. Que estejamos cada vez mais acordadas para pausarmos. Sim, pausarmos durante a jornada com a genuína e consciente intenção de estarmos presentes com o que quer que estejamos vivenciando no momento do agora.

Gratidão pelos seus testemunhos. Que possamos honrar cada pedacinho da nossa história sem nos agarrarmos a ela...

Estamos juntas.

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