Escrever para compartilhar, entender e conectar
- 9 de out. de 2019
- 3 min de leitura
Foi a partir dos doze anos de idade que ela começou a pensar, ou melhor, começou a sonhar em escrever. Escrever como forma de compartilhar, entender e conectar - entender e conectar não apenas com os outros, mas especialmente consigo mesma. Ela visualiza a sua figura sentada confortavelmente atrás de uma escrivaninha de madeira na cor marfim, estrategicamente posicionada de frente para uma janela envidraçada, através da qual vê o longo gramado a sua frente, as árvores do bosque próximo e os pássaros sobrevoando contra o céu da cor do mar. Nesse ambiente, escreve as primeiras histórias imaginárias, embaladas pelo som das teclas da máquina de escrever que nunca teve. Este cenário era impraticável na realidade da menina, que aos doze anos foi enviada para morar com os avós materno, numa cidadezinha do interior do Rio Grande do Sul, dando certo alivio financeiros aos pais, cujo ordenado não era suficiente para manter a família unida sob o mesmo teto. Vinte cinco anos mais tarde e as imagens continuam vivas na mente, permitindo-lhe enxergar que, de certa forma, está vivendo o sonho de menina. Embora não seja uma escritora profissional ainda, e confesse abertamente não ter pressa para se tornar uma, sente esse dia se aproximando lentamente, para encontrá-la mais madura e mais segura de si.
Quando a ambição de contar histórias começou a crescer, como acontece com a barriga de qualquer mulher gravida, ela começa a se questionar “O que eu tenho para dizer? Sobre o que vou escrever?”, e a pensar no número de livros já publicados, disponíveis nas bibliotecas públicas que costuma frequentar. Mesmo com as dúvidas se avolumando, cresce também o “feeling” de que a vida está escrevendo para ela uma história que vale a pena compartilhar. A ideia de escrever sobre a própria existência surgiu ao ler o livro “A Língua Absolvida”, escrito por Elias Canetti, que lhe foi emprestado pela cunhada quando tinha pouco mais de vinte e cinco anos de idade. Com o passar do tempo, ela começou a perceber que é possível aprender com as experiencias dos outros e que cada história compartilhada pode inspirar alguém, em algum lugar que não chegaria de outra forma.
“A vida tem que ser uma busca – não um desejo, mas uma procura, não uma ambição de se tornar isso ou aquilo, o presidente ou primeiro ministro de um país, mas uma busca para descobrir – quem sou?” - Osho.
Inspirada pelas muitas leituras, faz anotações como “Qual o sentido da minha vida? Por que sai da casa dos meus pais, pela primeira vez, quando tinha apenas nove anos de idade? Por que experienciei abuso sexual nessa mesma época? Por qual razão, aos treze anos de idade, escolhi construir a vida longe da família e quais as consequências dessa escolha? Qual a razão de ressentir a figura materna? Como as escolhas, conscientes e inconscientes, criaram a versão de mim mesma que sou hoje? Qual o meu papel aqui? Por que só encontrei o meu companheiro quando estava a caminho dos quarenta? O que aprendi através do aborto? Existe um sentido para a vida, além daquele que atribuo? Quem sou eu?”
Bem-vindo, leitor. Essas são algumas das questões que povoam a mente da menina que mora dentro da mulher de quase quarenta, que vive em busca de respostas, coletando pedaços do quebra-cabeças chamado vida. Ela usa os questionamentos como guia para seguir na direção de encontrar um significado para a própria vida. Conhecedora do sabor de uma fase sem sentido, quando se via avulsa, suspensa, sem pertencer a ninguém ou a lugar algum, ela trabalha para criar condições de descobrir ou desenvolver um sentido para a sua vivência. “Não é normal viver experiências como as que vivi na infância?”, ela questiona, pensando que todos tiveram pais emocionalmente ausentes e viveram desprotegidos durantes os primeirods anos de vida. Ao ler autores como Oprah Winfrey, Maya Angelou, Dr. Wayne Dyer e Dave Pelzer, ela se pergunta se consegue usar as suas histórias para inspirar, como eles fazem. Ela também quer perdoar quem lhe dificultou a vida, quer limpar as magoas e esvaziar o coração daquilo que é pesado e sem brilho. Se não inspirar, pelo menos escrever pode lhe servir de ferramenta, de veículo para extrair de dentro, aquilo que guardou por tantos anos.
Oh, não, leitor, não a confunda com alguém que se compara com a Oprah ou qualquer outra pessoa. Ela aprendeu que o mundo só recebe uma versão de cada um de nós e que já existe uma versão de cada uma das pessoas que admira. Ela quer apenas ser ela mesma, seja lá quem for. O que está fazendo foi inspirado nos ensinamentos do Osho que diz que devemos compartilhar porque o que é compartilhado cresce. Cada autor que a inspira tem uma história de vida única, assim como a dela e, mesmo que a deles seja mais popular do que a dela um dia venha a se tornar, isso não importa. Existe espaço para todos e ela começa a reivindicar o seu.
Obrigada por tanto carinho e amor @Tamara! Fiquei sem palavras diante deste comentário. Gratidão imensa por ter você torcendo por mim.
Beijo! :)
Você já criou o seu espaço minha querida amiga. Agora eh cultivar e seguir se expressando porque expressão eh o oposto de depressão. Eh preciso colocarmos para fora, aquilo que vai no fundo da nossa alma, de alguma forma e você sem dúvida alguma tem encontrado a sua própria maneira de nos inspirar e ao mesmo tempo se curar. A sua dor eh a minha; o seu deleite eh o meu. Mais que cientificamente provado a quem quiser acreditar, que tudo eh energia; o que eh sentido aqui, eh sentido da mesma forma ali adiante; não há separação; somos um todo. Portanto, escreva, escreva e continue escrevendo porque a sua voz eh ouvida em todos os cantos dessa existência de…