O segundo compromisso: não leve nada para o lado pessoal
- 28 de ago. de 2020
- 5 min de leitura
“Não leve para o lado pessoal, isso não tem nada a ver com você.” “Você leva tudo para o pessoal e se estressa por besteira.” “A fulana tem mania de levar para o pessoal e fica ofendida com tudo.”
Quem nunca ouviu, ao menos uma vez na vida ou pelo menos uma variação das afirmações acima? Eu ouvi no mínimo de mim mesma algumas vezes desde que li o livro “Os Quatro Compromissos”, de Don Miguel Ruiz, em 2015. Mas o que significa dizer que estamos levando para o lado pessoal e como construir o musculo que nos imuniza para opiniões negativas, sejam pessoais ou vindas de outras pessoas?
Quase todas as pessoas lutam com o ego, essa necessidade de ser relevante, importante. Muitas sofrem de baixa autoestima e desconfiam dos outros. Essa condição geralmente resulta no medo de que “todos estão contra ela”, fazendo com que leve as coisas para o lado pessoal como forma de defesa.
Segundo Elliot D. Cohen, presidente do Logic-Based Therapy and Consultation Institute e um dos principais fundadores do aconselhamento filosófico nos Estados Unidos, todos os seres humanos constroem a realidade a partir de suas próprias perspectivas. “Nós percebemos e compreendemos as coisas por meio de nossos sistemas de valores e crenças, o que pode nos leva a concluir que nossas crenças e valores pessoais são verdades que se aplicam não só a nós, mas aos outros e ao mundo externo. Assim, se queremos ou desejamos algo, pensamos que é desejável e que outros também deveriam querer ou desejar; e se pensamos que algo é importante, supomos que deve ser realmente importante.”
Como fazer para encarar os fatos como o que realmente são? Esta é a proposta do segundo compromisso do livro "Os Quatro Compromissos”. Hoje vamos explorar o que podemos aprender com os ensinamentos do segundo acordo elaborado pelo escritor mexicano Don Miguel (para saber mais sobre o autor, veja o primeiro post desta série).
Não leve nada para o lado pessoal
“Aconteça o que acontecer ao seu redor, não leve para o lado pessoal. Nada que outras pessoas fazem é por sua causa e sim por causa delas mesmas. Todas vivem em seus próprios sonhos, em suas próprias mentes, em um mundo completamente diferente daquele em que vivemos. Quando levamos algo para o lado pessoal, presumimos que sabem o que há em nosso mundo e tentamos impor nosso mundo ao dos outros.”
Em outras palavras, levar para o lado pessoal significa que estamos reagindo com sensibilidade a algo que vimos ou ouvimos e entendemos ser negativo em relação a nós. Estamos fazendo com que o comportamento do outro seja sobre nós, quando na verdade, é sobre ele e o que se passa no mundo interno dele.
O autor ensina que, mesmo quando você estiver numa situação que pareça pessoal, mesmo que alguém te insulte diretamente, não tem a ver com você. O que o outro diz, faz e as opiniões que emite estão alinhadas com os acordos que ele tem em mente.” Ao levar para o lado pessoal você se torna presa fácil para pessoas que podem facilmente fisgá-lo e alimentá-lo com o veneno que quiserem.”
Tão importante quanto a opinião dos outros, são as que temos sobre nós mesmos. Como mencionei no primeiro parágrafo, venho me flagrando em momentos em que estou levando para o lado pessoal. Estou nesse processo de auto-observação, tentando não fazer tudo ser sobre mim, o que muitas vezes é exaustivo, frustrante e dolorido.
“Muitos de nós somos inseguros. Esta é uma insegurança fundamental sobre a própria realidade. Normalmente, pessoas inseguras exigem perfeição e, portanto, não se permitem aceitar as imperfeições inevitáveis da existência. Assim, tendem a ficar preocupadas e a sentir ansiedade quanto à possibilidade de coisas negativas acontecerem.” Elliot D. Cohen
Não sei se isso acontece com você, mas toda vez que levo algo para o pessoal, crio uma história completa na minha cabeça. Geralmente acabo por viver neste mundo mental falso que crio e perco o presente, a realidade. Desta forma, me desconecto de quem quer que esteja comigo e crio meu próprio sofrimento.
Sobre isso, o livro diz que “mesmo as opiniões que você tem sobre si não são necessariamente verdadeiras; portanto, não precisa levar tudo o que ouve em sua mente para o lado pessoal. Não leve nada para o lado pessoal, porque ao levar, você se prepara para sofrer por nada. Quando realmente vemos as pessoas como são, não podemos ser magoados pelo que dizem ou fazem. Mesmo se os outros mentem, estão mentindo porque eles têm medo.”
Quando você cria o hábito de não levar nada para o lado pessoal, deixa de validar o que os outros fazem ou dizem. Você começa a confiar em si mesma para fazer escolhas responsáveis. Você nunca é responsável pelas ações dos outros; você só é responsável por você, pelas suas escolhas e ações. Quando realmente entende isso e se recusa a levar as coisas para o pessoal, dificilmente será ferida pelas ações e comentários descuidados de outras pessoas.
Só para ter uma ideia de como este assunto é recorrente e abrangente, no site Psychology Today a frase "levando para o lado pessoal" traz uma lista de oito páginas de blogs e artigos. O New York Times tem quatorze artigos sobre o tema, o Huffington Post dez e o Slate cinco. Tem muita gente procurando informações sobre este comportamento humano.
Dr. F. Diane Barth, L.C.S.W., professora, autora e psicoterapeuta de Nova York, diz que o porquê de levarmos para o pessoal é muito simples. “Durante a primeira infância, sentimos o mundo girando ao nosso redor. Piaget, um pioneiro em psicologia de desenvolvimento, mostrou que uma criança olhando para uma imagem acredita que o adulto do outro lado da mesa vê exatamente o que ela vê, embora ele esteja vendo a imagem de cabeça para baixo. Quando a imagem é invertida, a criança continua acreditando que os dois estão vendo a mesma coisa. Parte de nosso crescimento intelectual e psicológico inclui a compreensão gradual de que nem sempre vemos a mesma coisa que a outra pessoa. Nos experimentos de Piaget, as crianças mais velhas tinham a capacidade de imaginar o que a pessoa do outro lado da mesa estava vendo.”
Para finalizar, conclui: “essa capacidade de reconhecer que outra pessoa tem uma perspectiva diferente não é o mesmo que empatia. De acordo com pesquisas atuais, a capacidade de responder aos sentimentos de outra pessoa se desenvolve muito cedo. No entanto, uma criança pequena nem sempre sabe como separar o que é sobre ou dentro dela do que é sobre ou dentro do outro. Demora muito mais para sermos capazes de separar nossa experiência da de outra pessoa; e às vezes, principalmente em momentos de vulnerabilidade, essa distinção pode se perder. É aí que acabamos levando as coisas para o lado pessoal, embora na realidade elas reflitam algo sobre a outra pessoa, não sobre nós.”
Agora que você já sabe como e porque fazemos isso, e que, ao não levar para o lado pessoal, estará imune ao impacto de toda essa negatividade, conte-nos sua estratégia para lidar com as projeções mentais e as expectativas alheias.
Me vejo no teu comentário Greyce. Também venho me pegando no momento em que estou levando para o pessoal e quando isso acontece, consigo jogar luz nessa sombra e me torno consciente da armadilha que criei pra mim mesma. É um processo. Estamos aprendendo, nos reeducando e alterando a história que estamos criando, exatamente como na escrita, que fazemos ajustes a cada releitura e revisão. Na vida também seguimos fazendo correções a cada momento e assim, nos tornamos criadores conscientes.
Obrigada por deixar teu comentário. Beijo!
Acho que não levar as coisas para o pessoal tem sido meu maior desafio. Hoje, depois de anos de terapia e meditações diárias eu já consigo observar aquele impulso que nos dá quando nos ofendemos com algo externo.
Eu sinto aquele sentimento, mas cada vez mais consigo identificar que isso é externo e não necessariamente uma verdade absoluta.
É um exercício diário que me está aos poucos me deixando plena em situações que antigamente eu gastaria muita energia com isso. No entanto, ainda me pego me ofendendo. Enfim, vamos aprendendo nessa caminhada da vida.
Adorei o texto!