Traumas de infância afetam os relacionamentos
- 22 de out. de 2020
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Segundo o livro “Getting the Love you Want”, que deu origem ao post anterior, em um grau ou outro, todos nós fomos feridos pela intromissão ou negligência de nossos pais e embora você e eu não tenha lembranças dos primeiros meses de vida, nossos “cérebros velhos” (partes que inclui o tronco cerebral e o sistema límbico) ainda estão presos a uma perspectiva infantil de certos aspectos da vida. Consequência: essas memórias inconscientes afetam nossos comportamentos nos relacionamentos amorosos.
Segundo o doutor Harville Handrix, autor do livro, quando você ouve as palavras "dano emocionais e psicológicos de infância", imediatamente pode pensar em traumas graves, como abuso físico e sexual, ou o sofrimento pelo divorcio ou morte dos pais, ou porque eram alcoólatras. “Para muitas pessoas esta é a trágica realidade da infância. No entanto, se você teve a sorte de crescer em um ambiente seguro e afetuoso, ainda assim carrega cicatrizes invisíveis da infância, porque no momento em que nasceu, você era uma criatura complexa e dependente com um ciclo interminável de necessidades. Freud nos rotulou como "seres insaciáveis" corretamente. Nenhum pai ou mãe, por mais dedicado que seja, é capaz de responder perfeitamente a todas essas constantes necessidades.”
A teoria elaborada no capitulo dois diz que, o fato de uma criança se sentir distinta e conectada à sua mãe ao mesmo tempo tem um impacto profundo em todos os relacionamentos posteriores.
Minha intenção não é apontar o dedo ou culpar alguém mas trazer consciência para a importância do papel materno (e paterno) na criação dos filhos. Tenho visto a inconsciência de muitos pais gerando adultos frustrados e deprimidos. Como adulta e mãe em potencial, é minha responsabilidade trabalhar para curar os traumas de infância, me reeducar para ter comportamentos construtivos e interferir de forma construtiva no desenvolvimento do ser que trouxer ao mundo. Apesar de ter sido educada de forma negativa, sei que não preciso passar a vida inteira “prisioneira” dos comportamentos que aprendi - a menos que eu escolha assim.
A criança que passou por experiências dolorosas no início da vida se sentirá desligada das pessoas ao seu redor ou tentará fundir-se com elas, sem saber onde ela termina e os outros começam. Essa falta de limites firmes será um problema recorrente no casamento.
Os possíveis traumas dos primeiros anos de vida
O texto aborda alguns dos possíveis traumas que são bem comuns durante os primeiros anos de vida de uma criança e que durante a vida adulta, se não forem corretamente trabalhados, afetam negativamente os relacionamentos amorosos.
Você pode estar se perguntando “como trabalhar essas questões? Por onde começar?” Minha sugestão é buscar um profissional na área de psicologia comportamental, alguém que trabalhe os comportamentos presentes e ajude a resgatar e trabalhar questões do passado que não foram resolvidas.
Vamos aos traumas e suas consequências nos comportamentos do adulto:
1 – Excesso de intromissão ou negligência: pais com comportamentos negligentes criam filhos que, inconscientemente, desejam fundir-se com o outro para formar uma única entidade. Os intrusos dão origem aos seres que preferem se isolar, distanciando-se das pessoas e buscando espaço.
Quando a criança está fora do alcance da vista, é a mãe ou pai quem se sente inseguro, não o filho. Por alguma razão, enraizada na infância dos pais, eles precisam que a criança permaneça dependente. Sem que a criança perceba, esse medo de ser engolida torna-a no que o autor chama de um ser "isolador ou isolado". Alguém que, inconscientemente, afasta os outros, que mantém a distância porque precisa de "muito espaço" ao seu redor; quer a liberdade de ir e vir quando quiser.
Quem não conhece alguém assim? Eu me casei com uma pessoa que se encaixa neste perfil. Conhecer essa possível razão para as diferenças comportamentais tem me ajudado a aliviar a frustração que certas interações causam.
Outros de nós cresceram com pais que nos afastavam quando íamos em busca de consolo e conforto. Eles não estavam preparados para atender a nenhuma necessidade, além das deles, e nós crescemos nos sentindo abandonados emocionalmente. Eventualmente, crescemos para nos tornar o que o autor chama de "fusores" - pessoas que parecem ter uma necessidade insaciável de proximidade. Preferimos "fazer coisas juntos" o tempo todo.
Segundo o especialista, ansiamos por afeto físico e reafirmação, e muitas vezes precisamos manter contato verbal constante. Por trás de todo esse comportamento de apego, diz o especialista, está uma criança que precisa de mais tempo no colo dos pais.
2 – O eu perdido: partes de nós que estão escondidas da mente consciente, traços de personalidade que não temos consciência que existem.
Essa é outra ferida da infância, um tipo ainda mais sutil de lesão psíquica chamada "socialização". Todas aquelas mensagens que recebemos de nossos pais e da sociedade em geral, dizendo quem somos e como devemos nos comportar. “Você é bom se obedecer a tudo o que dizemos, mas é mau se for você mesmo e seguir seus instintos naturais.”
Infelizmente, este processo de doutrinação ocorre em cada família, em todas as sociedades.
3 – O tabu sobre o corpo: é normal e natural para uma criança querer tocar-se em partes intimas e sentir a sensação associada, mas os pais permitem que seus filhos façam essa exploração?
As regras da sociedade são claras: a mãe pode e deve amamentar os filhos, mas deve se cobrir para que ninguém vislumbre o seio nu; as crianças devem estar sempre vestidas - pelo menos com fralda; meninos e meninas não devem sentir nenhuma forma de excitação genital, mas se por alguma razão sentirem, não devem ter permissão para desfrutá-la.
Imagine o impacto dessas regras na consciência de um ser em formação!
Para entender os desejos ocultos que permeiam seu relacionamento, diz o psicólogo, é importante saber este simples fato: quando você era criança, houve muitas vezes em que em sua sensualidade foi limitada pelos outros.
Como a maioria das crianças neste mundo, provavelmente você se sentiu envergonhada, culpado ou travessa por ter um corpo capaz de sensações requintadas, diz o escritor.
Como esses tabus estão funcionando para você atualmente?
4 – Os sentimentos proibidos: alguns sentimentos não eram apenas permitidos, eram encorajados. Outros, como a raiva, eram desencorajados, reprimidos, punidos ou proibidos.
Ainda são raros os pais que validam os sentimentos de seus filhos e os ajudam a lidar com eles de forma saudável. Os que fazem, colhem bons frutos desta escolha. A maioria apenas reproduz o que aprendeu com as gerações passadas.
5 – Ferramentas de repressão: na tentativa de reprimir certos pensamentos, sentimentos e comportamentos, pais usam várias técnicas. Às vezes, usam diretivas bem definidas, repreendem, ameaçam ou espancam. Na maioria das vezes, moldam seus filhos por meio de um processo mais sutil de invalidação - eles simplesmente optam por não ver ou recompensar certos comportamentos.
A maneira como os pais influenciam seus filhos mais profundamente, no entanto, é pelo exemplo. Os filhos observam instintivamente as escolhas que os pais fazem, a liberdade e o prazer que se permitem, os talentos que desenvolvem, as habilidades que ignoram e as regras que seguem. Tudo isso tem um efeito profundo nas crianças.
Quer os filhos aceitem o modelo dos pais ou se rebelem contra ele, essa socialização precoce desempenha um papel significativo na seleção do parceiro e costuma ser uma fonte oculta de tensão na vida conjugal.
6 – O falso eu: barreiras, mascaras ou outros mecanismos de defesa que criamos para lidar com as experiências dolorosas. Essas falsas proteções camuflam as partes de nosso ser que reprimimos e nos “protegem” de novas lesões.
“Qualquer que seja a natureza do falso eu, seu propósito é minimizar a dor de perder parte da integridade original dada por Deus à criança.”
Sobre este assunto, deixo um trechinho do poema “A Máscara”, escrito pela americana Maya Angelou, falar por mim:
Usamos a máscara que sorri e mente.
Ela sombreia nossas bochechas e esconde nossos olhos.
Essa dívida que pagamos à astúcia humana
Com corações rasgados e sangrando. . .
Sorrimos e falamos as miríades de sutilezas.
Por que o mundo deveria pensar o contrário
...
Nós sorrimos, mas oh meu Deus
Nossas lágrimas para ti de almas torturadas surgem
...
7 – O eu renegado: essa forma ingênua de autoproteção torna-se a causa de mais feridas, pois a criança é criticada por ter esses traços negativos, que foram forjados a partir da dor e se tornaram parte de uma identidade assumida - um pseudônimo que a ajuda se mover em um mundo complexo e às vezes hostil.
Esses traços negativos tornam-se o que é referido como o "eu renegado", aquelas partes do falso eu que são dolorosas demais para serem reconhecidas.
De acordo com este conceito, a única parte desse quebra-cabeça que estamos cientes são as peças de nosso ser original que ainda estão intactas e certos aspectos do falso eu. Juntos, esses elementos formaram a nossa "personalidade", a maneira como nos descrevemos para os outros.
Imagine como ficamos depois de passar por esse processo confuso e pesado de modelação. Não surpreende que muitos de nós esteja com dificuldade para encontrar um parceiro(a), para construir um relacionamento, para se manter emocionalmente saudável e equilibrado.
Reforço a sugestão. Não sou terapeuta, mas terapia foi até hoje, o melhor investimento que fiz em mim mesma. Autoconhecimento pode te ajudar a evitar sofrimento futuro. Não tem como mudar o passado, mas tem como mudar seus comportamentos no presente para alinhar com seus objetivos de vida.
Alguma parte desta teoria faz sentido para você? Deixe um comentário compartilhando seus insights sobre os ensinamentos do Dr. Harville Handrix e a Dra. Helen Hunt no livro “Getting the Love You Want” (Todo o Amor do Mundo. Um Guia Para Casais).
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